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Diversificação: os ovos e as cestas

O melhor caminho para se proteger das crises é a extensa diversificação do portfólio, diluindo os riscos ao distribuir seus recursos entre diferentes mercados, gestores, setores e ativos

Sigrid Guimarães: prática de rebalancear os investimentos periodicamente sustenta a estratégia de diversificação e representa a troca de ativos em alta por ativos em baixa (Alocc Gestão Patrimonial/Divulgação/Divulgação)

Sigrid Guimarães: prática de rebalancear os investimentos periodicamente sustenta a estratégia de diversificação e representa a troca de ativos em alta por ativos em baixa (Alocc Gestão Patrimonial/Divulgação/Divulgação)

Sigrid Guimarães
Sigrid Guimarães

CEO da Alocc Gestão Patrimonial

Publicado em 9 de outubro de 2023 às 14h26.

Por Sigrid Guimarães

Há dois artigos, dei início a uma pequena série dedicada aos fundamentos do investimento patrimonial. No primeiro, abordei as peculiaridades dos seus objetivos de longuíssimo prazo, e, no segundo, a importância de dispor de liquidez para o curto prazo.

Como espero ter demonstrado, quando o assunto é fazer frente a suas despesas correntes e inadiáveis, não há melhor saída do que contar com uma reserva de alta liquidez, em volume conveniente para alguns anos, investida em títulos púbicos de curto prazo atrelados à Selic. Esse é o mais baixo risco que se pode correr e a melhor solução para o presente, mas decididamente não resolve o futuro.

Riscos são inerentes aos investimentos. É um fato simples e claro que nenhum gestor sério negará. Afinal, a disponibilidade para arcar com riscos é o que justifica a remuneração do investidor. Por consequência lógica, a remuneração do menor risco (a Selic no nosso caso) é proporcionalmente reduzida, e o baixo incremento do seu patrimônio pode prejudicar seu padrão de vida a longo prazo. Para esse fim, será preciso assumir riscos superiores.

Para quem precisa gerir um patrimônio, o problema essencial é que, sejam quais forem os ativos – a longo prazo, os mercados em que são negociados, quaisquer que sejam – passarão por crises que rebaixarão seus preços. Em vez de lutar contra o fato, acredito que o melhor é compenetrar-se dele e reconhecer humildemente: não sabemos o dia e a hora, mas podemos ter certeza absoluta de que, em algum momento, um evento financeiro ou econômico, geopolítico ou natural, local ou global, vai desencadear uma crise em algum mercado, e, ao longo de décadas, haverá crises para todos eles.

Ninguém precisa cometer um erro para se ver em meio a uma crise, tão pouco as crises, necessárias à regulação dos mercados e da economia, têm de obrigatoriamente representar uma catástrofe na sua vida. A grande vantagem de aceitar sua inevitabilidade é parar de desperdiçar energia e recursos tentando inutilmente prevê-las. Em lugar disso, você pode se preparar para atravessá-las e aguardar até que, mais adiante, as perdas possam ser convertidas em ganhos ou, ao menos, compensadas.

O melhor caminho para se proteger das crises é a extensa diversificação do portfólio, diluindo os riscos ao distribuir seus recursos entre diferentes mercados, gestores, setores e ativos. Não impedirá que você compute baixas momentâneas ou mesmo perdas em algumas operações, mas evitará perdas globais definitivas e permitirá que mantenha seus recursos investidos até que os mercados afetados voltem a crescer e os preços se recuperem. A prática de rebalancear os investimentos periodicamente sustenta a estratégia de diversificação e representa a troca de ativos em alta por ativos em baixa. Quando se conta com um elenco de gestores competentes especializados nos diferentes mercados, capazes de selecionar os ativos com as mais bem fundamentadas expectativas de valorização, viabiliza-se o sistemático incremento do patrimônio.

A maior dificuldade para seguir essa estratégia é controlar os nervos, manter a disciplina da diversificação e resistir, sempre, ao canto de sereia da concentração, por melhor que a aplicação proposta pareça.

Não se trata de simples teoria. A História está cheia de exemplos de famílias prósperas que se arruinaram ao concentrar seu patrimônio. Pense, por exemplo, nas famílias empobrecidas com o fim dos ciclos da cana-de-açúcar, do café, da borracha. Não imagine que suas histórias não possam se repetir nos dias de hoje.

Há pouco tempo, um cliente nosso vendeu seu negócio, um bom negócio, a um concorrente indiscutivelmente competente e capitalizado. O setor estava em alta e, feliz da vida, ele aceitou a proposta de receber 50% em dinheiro líquido e 50% em ações da empresa compradora. Ao ter essa notícia, recomendamos que vendesse parte expressiva de sua participação para diversificá-la em outras empresas. Pouco depois, o mercado em questão entrava em uma colossal crise, e o valor da empresa caía a 10% do montante original. Por sorte, o cliente havia acatado nossa recomendação e escapou de ver 45% do seu patrimônio virar pó.

Não temos bola de cristal. Poderia não ter acontecido tão cedo nem com a mesma intensidade, mas fatalmente aconteceria em algum momento. É justamente porque não somos capazes de prever o futuro que a diversificação é a melhor ferramenta de proteção dos investimentos patrimoniais.

*Sigrid Guimarães é sócia e CEO da Alocc Gestão Patrimonial

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