Invest

Dia dos Pais: a transformação pelo exemplo

Divisão de responsabilidades e medidas corporativas como a licença-parental são ferramentas na busca pela igualdade de gênero no mercado de trabalho

Dia dos Pais: "quando nossos filhos nasceram, meu marido não precisou se preocupar se a sua carreira teria algum prejuízo pelo fato de ter se tornado pai" (Andrew Olney/Thinkstock)

Dia dos Pais: "quando nossos filhos nasceram, meu marido não precisou se preocupar se a sua carreira teria algum prejuízo pelo fato de ter se tornado pai" (Andrew Olney/Thinkstock)

Carolina Cavenaghi
Carolina Cavenaghi

Cofundadora e CEO da Fin4she

Publicado em 13 de agosto de 2023 às 08h53.

Última atualização em 28 de agosto de 2023 às 15h51.

A carteira de vacinação dos seus filhos está em dia? Como vai o desempenho na escola? Qual foi a última vez que você foi à uma apresentação deles? Se você, leitor, for mãe, provavelmente vai saber responder essas perguntas em segundos. Se for pai, talvez saiba, talvez demore um pouco mais, mas a maior probabilidade (infelizmente) é de que você não faça ideia das respostas.

Desde o começo de 2023 até agora, mais de 110 mil crianças foram registradas sem o nome do pai, como mostram os dados no Portal da Transparência do Registro Civil. No total, são mais de 5,5 milhões de filhos com pais ausentes. Uma pesquisa feita pela Fundação Getúlio Vargas também mostrou que o Brasil tem mais de 11 milhões de mães que criam filhos sozinhas; e quase 15% dos lares brasileiros são chefiados por mães solo.

É por isso que neste Dia dos Pais eu quero falar sobre a responsabilidade dos pais com os filhos e o papel deles na busca pela igualdade de gênero. Quando eu tive meus filhos, com pouca diferença de tempo entre as duas gestações, senti os impactos da maternidade na minha carreira e no meu dia a dia.

Me sentia sobrecarregada por tudo estar sob minha responsabilidade, por estar ausente do trabalho por tanto tempo e com medo das consequências. Ao mesmo tempo, observava que o meu marido não precisava lidar com os mesmos impactos e consequências que eu, apesar de sempre ter sido um pai presente e extremamente amoroso.

As coisas começaram a mudar quando eu entendi que não era sobre ele fazer o papel de mãe, era sobre dividirmos as responsabilidades de ter filhos. Ser pai vai muito além de garantir o sustento financeiro das crianças, é responsabilidade dos homens dividir os cuidados diários com alimentação, desempenho escolar, desenvolvimento da criança, acompanhamento médicos e atualização das vacinas, por exemplo.

A realidade está muito distante disso principalmente pela construção de uma mentalidade coletiva que sempre relacionou às mulheres o papel de cuidadora e de ser movida pelo emocional, enquanto os homens são vistos como uma figura lógica, e, portanto, racional. Uma visão que faz com que a paternidade não seja vista como prioridade para os pais e que contribui dia após dia para a manutenção da desigualdade de gênero, principalmente no mercado de trabalho.

Paternidade e carreira

Quando nossos filhos nasceram, meu marido não precisou se preocupar se a sua carreira teria algum prejuízo pelo fato de ter se tornado pai. Pelo contrário, pesquisas mostram que quando os homens se tornam pais, são vistos como mais responsáveis, maduros e confiáveis, enquanto as mulheres são vistas como  distraídas e ausentes.

Infelizmente, muitas mulheres acabam perdendo espaço nas empresas quando se tornam mães. Já para os homens, o movimento é oposto. O mercado entende que o profissional que se torna pai vai se dedicar ainda mais, afinal ele agora terá mais gastos com a família e precisa se dedicar para ser promovido e crescer profissionalmente.

Segundo dados de uma pesquisa da Ipsos Mori publicada na Inglaterra em 2018, 30% das mulheres acham que a licença-maternidade teve um impacto negativo em sua carreira. Entre os homens, só 13% notou o mesmo impacto após tirar a licença-paternidade.

Hoje, Dia dos Pais, é dia de celebrar e comemorar com os pais que praticam a paternidade ativa e de lembrar os demais das suas responsabilidades. Mas, além disso, também é dia de cobrar das empresas ações efetivas de igualdade de gênero em relação à paternidade.

Quando mulheres com filhos serão vistas como responsáveis e maduras tal como os homens com filhos? Quando os pais começarão a se ausentar (sem prejuízos) do trabalho vez ou outra para levar o filho ao médico, para ir à reunião da escolha ou a um jogo de futebol da criança? Quando as mulheres também terão a maternidade como uma aliada no desenvolvimento de suas carreiras?

Trocando a licença maternidade pela licença-parental

O termo licença-parental já é amplamente utilizado em países da União Europeia no lugar da  licença-maternidade, onde cada um dos cuidadores da criança têm direito a pelo menos quatro meses de licença a partir do nascimento ou da adoção. A norma parte do princípio de que pais e mães devem ter a mesma responsabilidade no cuidado dos filhos.

Além disso, por focar na ideia de “pessoas cuidadoras de crianças” e não necessariamente em mãe-mulher e pai-homem, este modelo atende e respeita os direitos da população LGBTIQA+.

No Brasil, algumas empresas já estão implementando a mudança. Grandes companhias como a petrolífera Shell, a farmacêutica Haleon, a JTI, e o JP Morgan são alguns exemplos disso.

Desde janeiro, a Haleon oferece licença parental de seis meses remunerados, para pais ou mães, independentemente de ser um filho biológico ou adotivo. No JP, os funcionários passaram a ter a licença parental remunerada de 16 semanas.

As pesquisas, as histórias e o dia a dia deixam claro que um dos principais fatores da desigualdade de gênero no mercado de trabalho é a maternidade. Então, nesse Dia dos Pais, nós desejamos que a paternidade ativa e com responsabilidade seja cada vez mais difundida e adotada pelos homens, porque assim teremos mais chances de conseguir um cenário de igualdade de gênero no que diz respeito à carreira, promoções e salários.

E como podemos começar a mudar esse cenário? Eu acredito muito no exemplo e na representatividade. Precisamos de mais pais assumindo esse papel e dando exemplo dentro e fora das empresas. É sempre preciso alguém dar o primeiro passo, as empresas e a nossa sociedade são feitas de pessoas. Não adianta ficarmos esperando somente políticas serem criadas para mudarmos as nossas ações e postura. A transformação começa em cada um de nós, e tenho muito orgulho em dizer, que aqui na minha família, o pai dos meus filhos compartilha as responsabilidades, uma paternidade ativa e também exemplo dentro e fora de casa. Foi um longo caminho, mas encontramos o nosso jeito de fazer dar certo.

Feliz dia dos pais.

Acompanhe tudo sobre:dia-dos-paisMulheresMercado de trabalhoCarolina Cavenaghi

Mais de Invest

Parceira da Shein no Brasil entra em recuperação judicial

Bolsas da Europa fecham em alta, com balanços e perspectivas de relaxamento monetário

Mega-Sena acumulada: quanto rendem R$ 40 milhões na poupança

Ibovespa opera em queda em dia de decisão do Copom

Mais na Exame