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"Interferência na Petrobras atrapalha a percepção do estrangeiro", afirma CIO da Franklin Templeton

Frederico Sampaio afirma que perdemos relevância entre os mercados emergentes: "O Brasil foi diluído pelos países asiáticos"

Frederico Sampaio: "Interferências em estatais não ajudam nem um pouco na percepção do investidor internacional" (Leandro Fonseca/Exame)

Frederico Sampaio: "Interferências em estatais não ajudam nem um pouco na percepção do investidor internacional" (Leandro Fonseca/Exame)

Guilherme Guilherme
Guilherme Guilherme

Repórter de Invest

Publicado em 1 de abril de 2024 às 11h24.

Última atualização em 1 de abril de 2024 às 12h14.

Todo o otimismo que a bolsa brasileira viveu no fim de 2023, com o Ibovespa retomando às máximas e o estrangeiro entrando em peso ficou no ano passado. Neste ano, o fluxo de capital externo e o Ibovespa estão em direção contrária. Fundos internacionais tiraram R$ 23 bilhões entre janeiro e março e o principal índice da B3 caiu 4,5%.

Frederico Sampaio, Chief Investment Officer (CIO) da Franklin Templeton, avalia que a menor taxa de crescimento dos últimos anos fez o Brasil perder relevância frente a outros países emergentes, como China, Taiwan e, especialmente, a Índia.

"A Índia tem ganhado relevância no mundo e peso no índice MSCI de mercados emergentes. O Brasil, em 2008, era muito relevante. Todo mundo tinha de ter uma opinião e uma posição no país. Mas o Brasil foi diluído pelos países asiáticos", afirma Sampaio em entrevista ao programa Vozes do Mercado, da EXAME Invest.

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A americana Franklin Templeton é uma da principais gestoras do mundo, com US$ 1,5 trilhão em investimentos. Há 20 anos na gestora Sampaio faz parte da equipe de mercados emergentes e é o principal gestor da divisão brasileira. Antes de chegar à Franklin Templeton, teve passagens pela Rio Bravo, BBM, Bank of America e Petros, o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras e um dos maiores do Brasil."Tomamos uma trajetória de crescimento pior. Para ter fluxo consistente de estrangeiro, precisa reencontrar o caminho do crescimento."

A saída de estrangeiros foi próxima de R$ 6 bilhões em março, mês que coincidiu com a reserva do que seriam os dividendos extraordinários da Petrobras. A decisão, instigada pelo governo, de não distribuir parte do lucro pegou o mercado de surpresa, levando a companhia a uma perda de R$ 37 bilhões em valor de mercado no mês. "Interferências em estatais não ajudam nem um pouco na percepção do investidor internacional. Afastam investimentos", diz Sampaio.

Não consigo ficar pessimista com a bolsa

Apesar da menor atratividade do país, o gestor da Franklin Templeton vê razões técnicas para acreditar na alta da bolsa brasileira. O principal motivo, afirma, é o nível de preços. "O valuation está em um nível que não conversa com os fundamentos de nossa economia. O Ibovespa está em oito vezes lucro. Já foi 16 vezes, na média era 11 vezes, e, na mínima, batia seis ou oito vezes e logo voltava para a média. Estamos há dois ou três anos com o Ibovespa oscilando em oito vezes lucro. Não consigo ficar pessimista com a bolsa."

Pela ótica do lucro, afirma, as perspectivas estão mais otimista. Ele conta que, no ano passado, entraram nas projeções de analistas os impactos da reforma tributária, que reduziu os benefícios fiscais e, consequentemente, provocou revisão de lucros para baixo. "Mas isso já está nos preços. Os lucros não deverão mais ser revisados para baixo."

No cenário-base, ele afirma que as empresas devem apresentar aumento de lucro. Só esse fator faria com que a bolsa subisse para manter a mesma relação de preço/lucro. Mas Sampaio espera uma alta ainda maior, também puxada pela reprecificação dos múltiplos. "A bolsa teria de subir para manter os múltiplos. Mas oito vezes o lucro parece baixo. Está tudo alinhado para a bolsa subir."

O gatilho, afirma, é a perspectiva de volta do fluxo de investidores locais, que vinha sendo direcionado para ativos de renda fixa, especialmente, para aqueles com incentivo tributário. "A alocação, hoje, é muito baixa."

Sampaio ressalta ainda a menor liquidez da bolsa em relação a anos anteriores. Em 2020, recorda, o volume de negociação era próximo de R$ 30 bilhões por dia. "Hoje está em R$ 20 bilhões ou ainda menor. Então, a nossa bolsa está muito leve. Para ter a expansão de múltiplo é rápido. Tem uma gordura boa para valorizar."

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