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O inferno astral de Alexandre Padilha

Embora faça aniversário apenas em setembro, o ministro vive momento de grande intensidade

Alexandre Padilha (Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)
Alexandre Padilha (Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)

Embora faça aniversário apenas em setembro, o ministro Alexandre Padilha vive um inferno astral de grande intensidade. É criticado publicamente pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, que o considera um “desafeto” incompetente. Além disso, nesta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou dos ministros Geraldo Alckmin (também vice-presidente), Fernando Haddad, Wellington Dias e Rui Costa maior envolvimento nas negociações políticas e em conversas com o Congresso Nacional. Lula só não mencionou o titular da pasta de Negócios Institucionais, que é responsável pela articulação junto a deputados e senadores. Quem é esse ministro? Ele mesmo: Alexandre Padilha.

As críticas dirigidas a Padilha são muito parecidas com as que Aloizio Mercadante recebia quando ocupou a Casa Civil de Dilma Rousseff. Naquela época, era Mercadante o principal negociador do governo com o Congresso, dividindo a bola com Marcelo Neri, dos Negócios Estratégicos, em boa parte desse período. Mas frequentemente era acusado de não entregar o que havia combinado com seus interlocutores (quase sempre, diga-se, políticos ligados ao Centrão, como Lira).

Ocorre que Mercadante tinha uma explicação para não cumprir acordos: Dilma, na maioria dos casos, vetava nomeações ou liberações de verba. Com o tempo, a credibilidade do hoje presidente do BNDES foi se esvaindo e ele foi transferido para o ministério da Educação, onde ficou até o impeachment da presidente.

A mesma situação – respeitadas as diferenças de praxe – está acontecendo agora. Ou alguém acha em sã consciência que Alexandre Padilha tem autonomia total e está deliberadamente sabotando os pedidos encaminhados por Lira?

Nenhuma negociação de porte com o governo é colocada em prática sem que Lula assine embaixo. Assim, qualquer barrigada que ocorra no ministério dos Negócios Institucionais tem origem no terceiro andar do Palácio do Planalto.

Arthur Lira sabe disso, mas não pode abrir fogo diretamente contra o presidente. Por isso, dirige suas baterias em direção a Padilha, com uma virulência raramente vista em Brasília, para tentar sensibilizar o governo.

Lula aceita participar da farsa e finge que não tem nada a ver com os problemas para viabilizar pedidos do Centrão. Lira e o presidente, dessa forma, ficam trocando socos indiretos em uma luta imaginária, cujo enredo está baseado na mais pura ficção.

A estratégia do presidente em relação ao Centrão é esticar a corda até o ponto máximo. Mas Lira é adepto da mesma tática. Isso cria tensão no ar, mas a coreografia dos dois protagonistas é previsível. Um pouco antes do rompimento, Lula irá ceder em algumas das demandas (não todas) e vai tocando a vida.

Aos trancos e barrancos, é desse jeito que governo e Centrão vão conviver até o final do mandato de Lula. O problema é que Lira não tem a mesma paciência do presidente da República. Por isso, as críticas devem subir um pouco mais de tom nos próximos dias, ampliando inclusive os personagens atingidos.

Resta saber se Lula vai continuar pagando para ver. O problema de agir deliberadamente dessa maneira com o Centrão é que a conta a pagar vai aumentando a cada vez que uma desavença ocorre. E entre Planalto e Lira, é sempre bom lembrar, já houve muita confusão. E se Alckmin, Haddad, Dias e Costa entrarem em campo para também conversar com os centristas, haverá desentrosamento e cabeças batendo. Preparem-se. A emenda pode ser pior que o soneto.