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Empresa criada por Eike sobreviveu à ruína do império X e pode formar gigante de R$ 50 bilhões

Eneva nasceu em 2001 como MPX. Agora, 22 anos depois, negocia uma fusão com a Vibra para criar terceira maior empresa de energia do Brasil

Eneva: empresa propôs fusão com a Vibra (Eneva/Divulgação)

Eneva: empresa propôs fusão com a Vibra (Eneva/Divulgação)

Guilherme Guilherme
Guilherme Guilherme

Repórter de Invest

Publicado em 27 de novembro de 2023 às 19h38.

Última atualização em 27 de novembro de 2023 às 19h40.

A empresa de energia Eneva (ENEV3), de térmicas a gás, está em meio a negociações que podem fazer com que entre no terceiro capítulo de uma história pra lá de intensa. Seria, também, a concretização de uma visão integrada de negócios que remonta a 2001, quando foi criada por Eike Batista.

Nesta segunda-feira, 27, a Eneva informou estar negociando uma potencial fusão com a Vibra (VBBR3), dona dos postos BR. A operação, se confirmada, criará uma das maiores empresas do setor de energia do país, com valor de mercado próximo de R$ 50 bilhões. A companhia formada pela união entre Vibra e Eneva teria participação dividida, com os acionistas de cada uma delas recebendo uma fatia de 50% no negócio.

A fusão, afirmou a Eneva, representa uma oportunidade "ímpar" para as empresas, com um "sólido racional estratégico", considerando a complementariedade dos negócios. Se efetivada, apontou a companhia, poderá haver "ganhos significativos de eficiência e de alocação de capital". A Vibra, que surgiu a partir de uma spin-off e consequente privatização de uma fatia da Petrobras, tem expandido suas atuações para além da frente de postos de combustíveis e entrado cada vez mais no setor de energia elétrica.

Geração e comercialização de energia elétrica, por sua vez, sempre foi o negócio da Eneva. Ex-MPX, a empresa foi a primeira cartada do empresário Eike Batista, após empreitada no mercado de ouro, no Canadá. Sua criação, em 2001, esteve atrelada à crise do apagão, que forçou o governo a oferecer incentivos para a criação de termoelétricas. Diante de projetos exuberantes que surgiram com o Império X, como a petrolífera OGX e a mineradora MMX, ficou em segundo plano. Até que, mais de 20 anos depois, é a empresa “X” de maior sucesso -- mesmo com Eike há mais de uma década distante dos rumos da companhia.

O principal ativo da então MPX na época de sua criação era uma participação de 51% na Termoceará, operadora de uma usina termoelétrica movida a gás natural, com capacidade instalada de 220 MW. O empreendimento foi desenvolvido em forma de consórcio, formado com a Petrobras e a Montana Dakota Utilities. A parceria durou até 2005, quando a Petrobras adquiriu a totalidade das operações.

As operações da empresa só voltariam em 2007, a partir de uma parceria 50/50 com a holding de distribuição de energia EDP. O projeto envolveria a criação do Pecém I, com capacidade instalada de 720 MW e 615 MW médios vendidos em leilão por 15 anos a uma receita anual de R$ 417,4 milhões reajustado pelo Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA). No mesmo leilão, a usina Itaqui, 100% da MPX, também vendeu a 315 MW médios por 15 anos por R$ 220 milhões ao ano ajustado pelo IPCA.

Naquele mesmo ano de 2007, a MPX iniciou sua história na bolsa de valores de São Paulo e levantou R$ 2 bilhões em uma Oferta Pública Inicial (IPO, na sigla em inglês). No entanto, ainda demoraria anos para que a companhia, de fato, começasse a comercializar energia. A autorização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para que a usina Pecém I iniciasse a operação comercial só viria em dezembro de 2012, enquanto a de Itaqui, apenas em 2013.

Derrocada e recuperação

Nesse ínterim, a companhia, que ainda estava em fase pré-operacional, apresentou uma sequência de resultados negativos. Os prejuízos trimestrais chegavam, com recorrência, na casa das centenas de milhões. Foram necessárias diversas captações nesse período, por meio de dívida (o que levaria a empresa à recuperação judicial em 2014) ou por aumento de capital, o que diluiu a participação do empresário Eike Batista no negócio.

A participação do empresário começou a diminuir a partir da chegada da Uniper, do grupo alemão E.ON, em 2012. A entrada envolveu um aumento de capital de R$ 1 bilhão integralmente subscrito pela Uniper, que atingiu, na época, 11,7% da companhia. Em maio de 2013, a Uniper adquiriu 141,5 milhões de ações de Eike Batista na empresa, elevando sua participação para 36,2%. O empresário, no entanto, ainda manteria o controle compartilhado na MPX. No mesmo ano, empresa mudou de nome para Eneva, buscando dissociação do Império X, naquele momento em ruínas.

Meses após a compra de parte das ações de Eike Batista pela E.On Eike Batista deixou a presidência do conselho da Eneva, mas manteve controle compartilhado. O empresário deixou de figurar entre os acionistas controladores apenas em 2015, quando, já em meio à recuperação judicial, a empresa realizou um aumento de capital de R$ 3,65 bilhões, diluindo a participação do empresário para menos de 2% da empresa.

O aumento de capital, bem como a redução da dívida com credores, foi peça fundamental para a saída da recuperação judicial, em 2016. Os bancos Itaú BBA e BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da Exame), que detinham parte relevante da dívida da companhia, se tornaram grandes acionistas. O BTG, inclusive, até hoje figura entre os principais acionistas da empresa, com mais de 20% de participação.

"A partir de 2016, quando saiu da recuperação judicial, ela passou a diversificar sua área de atuação, antes muito concentrada em usinas à carvão. Foram adicionadas usinas a gás e, mais recentemente, solar", diz Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.

De capital intensivo, a Eneva ainda fez, desde 2017, outras três ofertas subsequentes de ações (follow-on). Duas delas envolveram a emissão de novas ações, o que injetou mais R$ 5 bilhões de capital na companhia. A reestruturação da companhia tem se refletido no preço das ações, que, desde 2018, já subiram mais de 200%.

Próximos capítulos

Essa alta elevou seu valor de mercado para mais de R$ 20 bilhões, o que coloca a companhia próxima da posição de igualdade para negociar a fusão com a Vibra. Se confirmada a transação, a empresa formaria com a Vibra a terceira maior empresa de energia do país, atrás apenas da Petrobras e Eletrobras. Mas ainda há desafios à frente.

Embora as discussões para a fusão entre as empresas, segundo o Exame In, tenham iniciado com ambas em valor de mercado próximos, a Vibra iniciou esta segunda-feira, 27, valendo cerca de 25% a mais, ou R$ 5 bilhões. Por esse motivo, Ruy Hungria, analista da Empiricus Research, vê espaço para a Vibra recusar a proposta. "Se isso acontecer, podemos ver novas propostas com condições mais favoráveis para ela e, claro, menos favoráveis para a Eneva", escreveu em relatório.

Hungria, no entanto, vê o momento como oportuno para comprar ações da ex-MPX. "A companhia possui uma grande capacidade de crescimento à medida que novos projetos começam a entrar em operação." Mesmo longe de seu criador, a empresa continua com planos grandiosos para o futuro.

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